quarta-feira, 29 de maio de 2013

Lufoda de ar fresco


Ouvia-a a chorar, numa mesa mais recatada do café, lamentando o fim de uma relação. Com ela, uma amiga ia emprestando palavras de moral e incentivo. Entre os soluços de uma e os conselhos de outra, percebo a amiga dizer: Não chores, que esborrata. Não é preciso muito mais para me criar a vontade de lhe esbodegar a rata. Por isso fui oferecer os meus préstimos. Apresentei-me, referindo que as palavras de nada servem e que as ações é que são as verdadeiras forças motrizes da mudança. Que podia estar a rebolar no lodo enfeitada com um coro de carpideiras em volta e que nada disso iria resolver os seus problemas. Que a palavra é sobrevalorizada e que para passar a ação só precisava de duas coisas: de força de vontade e de um nabo como o meu. Ainda consegui aperceber-me de uma janelinha de vontade no olhar da chorosa moçoila, que a empata fodas da amiga tratou logo de refrear: Esse seu pensamento tem uma grande lacuna. "Também essa tua amiga deve ter uma grande lacona e eu não te interrompi", pensei. Depois aventou qualquer coisa de eu me estar a aproveitar de uma mulher num estado frágil. Confesso que não estava. Sinceramente vos digo que uma mulher naquele estado jamais deveria recolher-se à sua privacidade e chorar em isolamento. Deveria era sair à rua e apanhar uma lufoda de ar fresco.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Bate-papo: O Retorno


Eu tentei. Não podem dizer que não tentei. Mas as palavras fazem-me formigueiro nos dedos e nas margens ordinárias do cérebro. O tempo, esse, é «um crime premeditado». Por isso será apenas de quando em vez e sem a fantástica interacção masturbatória que decorria nos comentários. O tempo queima tudo em nossa volta. Mas não se iludam. As palavras continuam gastas. Completamente gastas. Mais não digo, pois vocês sabem bem o que a casa gasta. Tal como eu sei o que a chacha gasta: o meu pincel. Sem mais demoras, e antes que fique com um esquentamento na gaita de tanto esfregar o besugo em vez de vos escrever porcalhices, cá vai disto, a anunciar o retorno:


Bate-papo

Isto é capaz de vos chocar, mas vou dizê-lo na mesma: aprecio mulheres tagarelas. A sério que sim. Relaxam-me. Gosto muito de as ver conversar. Umas com as outras, entenda-se. Isto a propósito de duas gajas bi-curiosas que engatei ontem à noite. Não sei se alguma vez vos disse que danço como o Fred Astaire, coisa que aparentemente deixa as mulheres à beira de um ataque de líbido. Engatei duas simultaneamente com os meus passos de dança, mas antes de sairmos do clube nocturno desataram as duas à conversa. Eu deixei-as falar, até porque assim conversam uma com a outra e sossegam-me os cornos. Fazem os preliminares da palratória e quando acharem que já chega de conversa vêm comigo para casa. E, acreditem, muito tagarelaram aquelas duas. Mas depois de as ter levado para casa e de as despir é que começaram no verdadeiro bate-papo.